30 Abril - Ouves-me, meu Deus

Ouves-me, meu Deus?

Nunca na minha vida te falei, mas hoje quero saudar-te. Sabes que, desde a minha mais tenra infância, me disseram que Tu não existias e eu seria uma besta se acreditasse.

Nunca tinha tido consciência da beleza da tua criação. Hoje, repentinamente, ao ver as profundezas da imensidão, o céu estrelado por cima de mim, os meus olhos abriram-se.

Maravilhado, compreendi a luz.

Como pude ser tão cruelmente enganado?

Não sei, Senhor, se me estendes a tua mão, mas confio-te este milagre e compreenderás: no fundo deste inferno terrível, a luz brotou em mim e eu vi-te.

Não direi mais nada, somente a alegria de te conhecer.

À meia-noite, devemos passar ao ataque, mas não tenho medo, Tu olhas por nós.

Ouve! É o sinal. Que fazer? Estava tão bem contigo. Ainda quero dizer-te isto: «Sabes que o combate será mau. Talvez esta noite eu bata à tua porta.»

Embora eu nunca tenha sido teu amigo, permitir-me-ás que entre quando eu lá chegar?

Mas não choro, Tu vês o que acontece, os meus olhos abriram-se.
Perdoa-me, ó Deus. Parto e, com toda a certeza, não voltarei; mas que milagre!

Já não tenho medo da morte!

SOLDADO DESCONHECIDO - SÉCULO XX

29 Abril - Orar com bom humor

Senhor, desculpa-me por ser importuno...
Lembrei-me mesmo agora

de que precisarias de um santo.
Então, apresentei-me para o lugar.
Desempenharei bem a tarefa.

Diga-se o que se disser,

o mundo está cheio de pessoas perfeitas.
Há quem te ofereça muitos sacrifícios,
para que não te enganes,

contando com eles,

marcam com uma cruzinha numa agenda!

Não gosto de fazer sacrifícios.
Isso aborrece-me enormemente.
O que te dei, Senhor,

sabes muito bem que o tomaste sem permissão.
Tudo o que pude fazer foi não recalcitrar.

Também há pessoas que se corrigem
de um defeito por semana,

e estão necessariamente perfeitos ao fim de um trimestre.
Mas não confio o suficiente em Ti para fazer isso.

Quem sabe se ainda viveria

no fim da minha primeira semana?

És tão imprevisível, tão impulsivo, meu Deus!
Por isso, gosto muito de esconder os meus defeitos…
servindo-me deles o menos possível.

ANÓNIMO - SÉCULO XX 

28 Abril - Oração da pessoa idosa

Deus nosso Pai, chego ao fim da tarde de uma vida

que me reservou muitas alegrias

e sobre a qual hoje penso

que, apesar das decepções e das provações,

valia a pena ser vivida.

Recebe a homenagem da minha peregrinação terrestre,
com a minha admiração e o meu agradecimento.

Venho pedir-te a graça

de uma velhice serena e generosa.
Concede-me que saiba saborear
as belezas da criação,

o riso das crianças e o canto das aves.
Preserva -me, Senhor,

tanto da nostalgia que se encerra no passado
como da amargura que seca o coração.
Ensina-me a pensar nos outros

em vez de mobilizá-los ao meu serviço.

Bendito sejas, ó Deus de piedade e de ternura,
pela obra realizada no mundo pelo teu Filho Jesus

e pelo dom do teu Espírito de santidade.

Povoa a minha solidão com a tua presença amante.

Que a tua Palavra ilumine o caminho que me resta percorrer
e que a esperança da ressurreição me sustente.

Reúne na paz do teu amor

os homens e as mulheres de boa vontade,

hoje e no mundo futuro. Ámen

ANÓNIMO - SÉCULO XX

27 Abril - Oração de um descrente

Até hoje

só falei a mim próprio

a homens e a mulheres.

Através de mim, através deles,
para além de mim, para além deles
pressinto o desconhecido.

Devo ir mais longe?
Virá ele a mim?

Terei resposta à minha pergunta?

Alguns chamam-te Verdade,
outros Beleza, outros o Sentido.

Outros dizem Libertação,
outros ainda Paz e Alegria.
Outros Amor.

Com que nome devo chamar-te?

ANÓNIMO - SÉCULO XX

26 Abril - Canto do órgão

Desperta, órgão, instrumento sagrado,
Entoa o louvor de Deus, Nosso Senhor e Pai.

Órgão, instrumento sagrado, celebra Jesus, Nosso Senhor
Morto e ressuscitado por nós.

Órgão, instrumento sagrado, canta o Espírito Santo
Que anima as nossas vidas com o sopro do Espírito.

Órgão, instrumento sagrado, eleva os nossos cantos e as nossas súplicas

Para ti, a Mãe de Jesus.

Órgão, instrumento sagrado, faz entrar a assembleia dos fiéis
Na acção de graça de Cristo.

Órgão, instrumento sagrado, traz o reconforto da fé
A quem sofre.

Órgão, instrumento sagrado, apoia a oração dos cristãos.

Órgão, instrumento sagrado, proclama glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

LITURGIA CATÓLICA – SÉCULO XX

25 Abril - Oração pelos nossos filhos

Pai santo, fonte inesgotável de vida,
Autor de todo o bem,
Bendizemos-te e damos-te graças,

Porque quiseste alegrar a união do nosso amor dando-nos estes filhos;

Concede-lhes que encontrem na nossa família

O caminho do progresso em direcção ao bem,

E que possam chegar a Ti com a finalidade que a si mesmos fixarão.

Por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Ámen.

LITURGIA CATÓLICA - SÉCULO XX

24 Abril - Orações pela nossa casa

Ouve, Senhor, a oração daqueles que inauguram esta casa
Implorando a tua bênção.

Que todos os que nela moram encontrem em Ti um refugio,
Para que, ao sair dela, sejas o seu companheiro de estrada;
Que, no seu regresso, sejas seu hóspede,

Até ao dia em que encontrarão na casa do Pai
A morada que lhes terás preparado,

Tu que reinas para os séculos dos séculos.
Ámen.

Bendito sejas, Espírito Santo,

Tu que estás presente em toda a parte
E que fazes de nós a tua morada.

Pedimos-te que faças com que vivam no amor
Aqueles que habitam debaixo deste tecto

E os que nele são acolhidos.

Senhor, ouve-nos.

LITURGIA CATÓLICA - SÉCULO XX

23 Abril - S. Jorge, inexpugnavelmente protegido pelo estandarte da cruz

A festa de hoje, caríssimos irmãos, vem duplicar a alegria pascal, como pedra preciosa que, engastada em ouro, o embeleza mais ainda com a sua própria formosura.
Jorge foi transferido duma milícia para outra, porque deixou o cargo de oficial dum exército da terra para se dedicar à milícia cristã. Nesta, como intrépido soldado, começou por libertar-se do peso dos seus bens terrenos, dando tudo aos pobres, e assim, livre e desembaraçado, revestido da couraça da fé, lançou-se na primeira linha do combate como valoroso guerreiro de Cristo.
Isto nos ensina claramente que não estão aptos para lutar com fortaleza e eficácia pela defesa da fé aqueles que ainda se recusam a despojar-se dos bens da terra.
São Jorge, inflamado pelo fogo do Espírito Santo e protegido inexpugnavelmente pelo estandarte da cruz, de tal modo combateu contra o rei iníquo que, vencendo este enviado de Satanás, venceu o chefe de toda a iniquidade e animou os soldados de Cristo a lutarem com valentia.
Assistia ao combate o Árbitro supremo e invisível, que, segundo os planos da sua providência, permitiu que os ímpios o atormentassem. Entregou de facto o corpo do mártir às mãos dos algozes, mas guardou a sua alma com protecção constante no baluarte invencível da fé.
Caríssimos irmãos, não nos limitemos a admirar este combatente do exército celeste, mas imitemo-lo também. Eleve-se o nosso espírito para o prémio da glória celeste, contemplemo-lo atentamente com os olhos do nosso coração, para não nos deixarmos abalar nem pelo sorriso enganador do mundo nem pelas ameaças do seu ódio perseguidor.
Purifiquemo-nos de toda a mancha na carne e no espírito, como nos manda São Paulo, para merecermos um dia entrar naquele templo da bem-aventurança, que por agora apenas entrevemos com o olhar do espírito.
Todo aquele que se quer esforçar por se oferecer a Deus em sacrifício no templo de Cristo, que é a Igreja, é necessário que, depois de lavado no banho sagrado do Baptismo, se revista com o manto das virtudes, conforme está escrito: Revistam-se de justiça os vossos sacerdotes. Quem pelo Baptismo renasce como homem novo em Cristo, não há-de tornar a vestir a mortalha do homem velho, mas a veste do homem novo, vivendo sempre renovado numa vida sem mancha.
Só assim, purificados da imundície da nossa antiga condição pecadora e resplandecentes pelo brilho dum procedimento renovado, seremos dignos de celebrar o mistério pascal e imitaremos verdadeiramente o exemplo dos santos mártires.

Dos sermões de S. Pedro Damião, bispo

22 Abril - Orações à mesa

Abençoa-nos, Senhor.

Abençoa esta refeição e quem a preparou
e ensina-nos a partilhar o nosso pão

com quem não tem.

Abençoa-nos, Senhor.

Abençoa este alimento e quem o preparou.
Recebemo-lo da tua bondade,

que nos ajude a melhor te servir,

por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Deus nosso Pai,

queremos bendizer-te sempre,

a Ti, que nos cumulas com os teus bens.
Quer comamos, quer bebamos,

concede-nos que façamos tudo para tua glória,
e te dêmos graças para sempre.

ANÓNIMO - SÉCULO XX

21 Abril - Santo Anselmo - Oração a Deus

 

Deus Todo-Poderoso, Pai de Misericórdia e Bom Senhor, tem piedade de mim, pecador. Dá-me o perdão dos meus pecados.

Concede-me que escape e vença todas as suas armadilhas, tentações e deleites perniciosos: que evite perfeitamente, tanto em pensamento como em acto, o que tu proíbes; faça e cumpra o que me ordenas.
Creia e espere, ame e viva o que sabes e queres, tanto e do modo que sabes e queres. Seja fiel e humilde no arrependimento, discreto na abstinência e na mortificação. Para te amar, orar, louvar e meditar. Para que todos os actos e todos os pensamentos sejam como queres, torna-me puro, sóbrio, devotado, franco e eficaz; concede-me que conheça os teus mandamentos, os ame, neles encontre prazer e os cumpra facilmente. Senhor, concede-me que progrida sempre com humildade e nunca fraqueje.

Não me abandones, Senhor, à minha ignorância ou à minha enfermidade de homem, nem aos meus méritos, nem a nenhuma outra disposição além da tua ternura; dispõe de mim, Tu mesmo com bondade, dispõe de todos os meus pensamentos e de todos os meus actos, a teu bel-prazer, para que por mim, em mim e sobre mim se faça sempre a
tua vontade. Pelo Senhor, livra-me de todo o mal e conduz-me até à vida eterna.

 

ANSELMO DE CANTUÁRIA (C. 1033-1109)

20 Abril - Oração com as minhas mãos

 

Ensina-me, Senhor,
a usar bem o tempo que me dás para trabalhar,
para o empregar bem sem nada perder.
Ensina-me a unir a pressa e a lentidão,
a serenidade e o fervor, o zelo e a paz.
 
Ajuda-me no início da obra,
quando sou mais fraco.
Ajuda -me no coração do trabalho
a manter bem tenso o fio da atenção.
E, sobretudo, cumula Tu mesmo os vazios da minha obra.
 
Senhor, em todo o labor das minhas mãos,
deixa uma graça de Ti para falar aos outros
e um dos meus defeitos para me falar a mim mesmo.
 
Guarda em mim a esperança da perfeição,
sem o que eu perderia a consciência.
Guarda em mim a impotência da perfeição,
sem o que eu perderia o orgulho.
 
Senhor, ensina-me a orar com as minhas mãos,
os meus braços e todas as minhas forças.
Lembra-te de que a obra das minhas mãos te pertence
e de que me compete devolver-ta ao oferecer-ta.
 

ANÓNIMO - SÉCULO XX

19 Abril - Meu Deus, chama-me à ordem

 

Meu Deus, chama-me à ordem!

 
Diz-me que sou apenas um grão de areia,
que não devo glorificar-me por um ou outro gesto.
 
Dá-me a força enquanto me for útil,
para cultivar o teu campo,
para viver sem me afastar de Cristo.

 

ANÓNIMO - SÉCULO XX

18 Abril - Procurei-o

Procurei-o e não o encontrei;
chamei e fiquei sem resposta.
 
Oferecer a minha impotência em homenagem
à transcendência insondável de Deus.
 
Se o meu espírito estiver distraído:
sempre que disso me aperceber,
tenho de reconduzi-lo com calma e humildade
àquele em quem creio e sei
que, apesar de tudo, está presente, muito atento
ao meu amor; tornar-me muito mais pequeno
nos braços de Maria.
Faz da minha miséria um título
à sua infinita misericórdia.
 
Purificar o meu coração afirmando-me
no simples desejo
do «único necessário».
 

MONGE CARTUXO - SÉCULO XX

17 Abril - Oração de um jovem casal

 
Senhor, olha por nós.
que estamos diante da tua Graça,
na inocência das nossas resoluções.
Amamo-nos e confiamos-te o nosso amor.
Ajuda-nos a amar-nos ainda mais.
Favorece a nossa esperança e aumenta a nossa generosidade.
Fortalece os nossos jovens juramentos
e dá fôlego à nossa liberdade.
Fomos escolhidos, mas bem sabemos
que não somos os mais fortes.
Só Tu podes ajudar a nossa vontade
e tornar mais amplo o nosso consentimento.
Deixa a nossa vida correr atrás do seu sonho
com o impulso renovado dos começos.
Que a alegria, sempre, invada o hábito.
Oferecemos-te o nosso ardor, ensina-nos a constância...
Não deixes murchar a nossa ternura,
mas torna-a segura e bela como a ascensão do dia
e tranquila como a chegada da noite;
aumenta a nossa intimidade,
tece-a de mistério e de confidência,
mas faz com que amemos bastante o nosso amor
para oferecê-lo à terra.
Sejamos em toda a parte e para todos
uma mesa posta por um gesto de ampla fraternidade.
 

FRANCE QUÉRÉ (1936-1995)

16 Abril - Espírito de Deus para a nossa terra

Tu, o dia sem crepúsculo,
O dia sem crepúsculo,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és a noite mais escura?
Tu, a fonte das águas vivas,
A fonte das águas vivas,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és Tu a sede que nada acalma?
Tu, a brasa que aquece,
A brasa que aquece,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és Tu a fria solidão?
Tu, a força que reúne,
A força que reúne,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és a espada que divide?
Tu, a seiva debaixo da casca,
A seiva debaixo da casa,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és o vento que desenraíza?
Tu, o amor que faz o mundo,
O amor que faz o mundo,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és Tu o sopro que dispersa?
Tu, a paz que nada perturba,
A paz que nada perturba,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és Tu a guerra no coração do homem?
Tu, a graça dos culpados,
A graça dos culpados,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és Tu o sal que nos decapa?
Tu, a vida de todas as coisas,
A vida de todas as coisas,
Espírito de Deus para a nossa terra,
Como és Tu o fogo que as consome?
 

DIDIER RIMAUD (1922-2003)

15 Abril - Salmo do pintor

Louvai o Senhor, pintores do Senhor, recriando o mundo em seis dias de Amor; louvai-o com os primitivos.

Louvai-o nas paredes do santuário, nas da cidade e da casa.
Louvai-o no brilho dos painéis, no tríptico e nas páginas do antifonário.
Louvai-o com o lápis duro e o pincel obediente, cheios de firmeza.
Louvai-o no «sentido da forma».

Louvai-o pelos três verdachos, fundamento dos três reinos; pela terra verde, suporte da vida.
Louvai-o pelo branco, emanação irradiante da Omnipotência divina.
Louvai -o pelo vermelho, símbolo do seu Amor.
Louvai-o pelo azul, Sabedoria do Espírito Santo.
Louvai-o pelo amarelo, revelador do seu Amor e da sua Sabedoria.
Louvai-o pelo verde, símbolo da Regeneração.
Louvai-o pelas cores compostas: o rosa, amor da Sabedoria; a púrpura, amor da Verdade; o jacinto, verdade do Amor; e a união dos dois, o violeta; louvai-o pelo negro que resiste ao génio do mal.
Louvai-o na paleta de júbilo.
Louvai-o, trabalhando em falanges.
Louvai-o no ateliê onde mora a vossa alegria.
Louvai-o na natureza com as aves.
Louvai-o pintando o rebento da erva.
Louvai-o na humildade perfeita.
Louvai todos o Senhor, ó pintores do Senhor, porque eis que a vossa obra é por Ele santificada.

René Dionnet - Séc. XX

14 Abril - Senhor passei a minha vida

 

Senhor, tem piedade de nós!
 
Senhor, passei a minha vida a afinar a minha lira em vez de te cantar. Perdão, Senhor.
 
Senhor, passei a minha vida a procurar o meu caminho em vez de caminhar para Ti. Perdão, Senhor.
 
Senhor, passei a minha vida a mendigar amor em vez de amar-te nos meus irmãos. Perdão, Senhor.
 
Senhor, passei a minha vida a evitar a noite em vez de dizer: «Tu és a minha luz.» Perdão, Senhor.
 
Senhor, passei a minha vida a procurar seguranças em vez de colocar a minha mão na tua. Perdão, Senhor.
 
Senhor, passei a minha vida a tomar resoluções sem as cumprir.
Perdão, Senhor.
 
E, agora, Senhor, já que é verdade que nos salvas não pelas nossas obras, mas segundo a tua grande misericórdia, então, estamos prontos para receber a tua salvação.

 

LUCIEN DEISS (1921-2007)

13 Abril - Tomei a palavra Senhor

Tomei a palavra, Senhor, e irrito-me,
irrito-me porque me agito, me esforço, com o gesto e com a voz.
Pus-me todo inteiro nas minhas frases, nas minhas palavras.
Temo que o essencial não tenha sido entregue, Senhor,
e as palavras são demasiado apertadas para o conter.
 
Tomei a palavra, Senhor, e estou inquieto.
Tenho medo de falar, porque é grave.
É grave perturbar os outros,
fazê-los sair de sua casa,
imobilizá-los na soleira da sua porta.
É grave detê-los por longos minutos, de mãos estendidas,
coração aberto, pedindo uma luz
ou, então, uma parte de coragem para viver e para agir.
Se eu, Senhor, os despedisse de mãos vazias!
 
Contudo, devo falar.
Deste-me a palavra para alguns anos,
devo conservá-la.
Devo a minha alma aos outros
e as palavras esperam nos bordos dos meus lábios.
[...]
 
Perdoa-me, Senhor, por ter falado tão mal.
Perdoa-me por ter falado tantas vezes para não dizer nada.
Perdoa-me os dias em que prostituí os meus lábios ao pronunciar
palavras ocas,
palavras falsas,
palavras cobardes,
palavras em que Tu não pudeste mostrar-te.
 
Ajuda-me quando tiver de tomar a palavra numa assembleia,
intervir numa discussão,
conversar com um irmão.
Sobretudo, Senhor, faz com que a minha palavra seja uma semente
e que aqueles que receberem as minhas palavras
possam esperar uma bela colheita.

Michel Quoist

12 Abril - Transborda-nos

Eis-nos diante de Ti, Senhor,
já sem fôlego,
já sem esperança.
Perpetuamente divididos
entre o infinito dos nossos desejos e os limites dos nossOS meios,
empurrados,
sacudidos,
enervados,
esgotados.
Eis-nos diante de Ti, Senhor,
enfim imóveis,
enfim disponíveis.
Eis o sofrimento da nossa insatisfação.
Eis o medo de nos enganarmos na escolha dos nossos compromissos.
Eis o medo de não fazer o suficiente.
Eis a cruz dos nossos limites.
Concede-nos que façamos o que devemos fazer,
sem querer fazer demasiado,
sem querer fazer tudo,
calmamente,
simplesmente.
Humildes na nossa busca e na nossa vontade de servir.
Ajuda-nos sobretudo a encontrar-te no coração dos nossos compromissos,
Porque a unidade da nossa acção, és Tu, Senhor,
um só amor
através de todos os nossos amores,
de todos os nossos esforços.
Tu que és a fonte,
Tu para quem tudo converge.
Eis-nos diante de Ti, Senhor,
para nos «re-colher».
 

MICHEL QUOIST

11 Abril - Perdoa-me por representar a minha personagem

Esta noite, Senhor, peço-te que, para sempre,
me livre da minha preocupação de parecer.
Perdoa-me por estar demasiado preocupado
com a impressão que dou,
com o efeito que produzo,
com o que se pensa de mim.
Perdoa-me por querer parecer aos outros,
esquecendo-me de mim mesmo,
por invejar as suas qualidades,
esquecendo-me de desenvolver as minhas.
Perdoa-me o tempo que passei
a representar a minha personagem
e o tempo perdido a construir a minha pessoa.
Mas concede-me que morra para o estranho que eu era
a fim de que eu possa nascer para mim mesmo
porque nunca conhecerei a minha casa, se me recusar sair dela,
nunca me encontrarei, se me recusar perder-me.
 
Por fim, concede-me que me abra totalmente aos meus irmãos.
Então, Senhor, por eles, poderás vir até mim
como em casa do teu amigo.
E farás de mim esta «pessoa» com que, no teu amor, sonhas,
porque serei teu filho, ó Pai,
e um irmão para meus irmãos.
 

MICHEL QUOIST (1921-1997)

10 Abril - Ajuda-nos a responder sim

 

Senhor Jesus, assim como um dia chamaste

os primeiros discípulos para fazer deles pescadores de homens,

assim também continua a fazer ecoar ainda hoje

o teu doce convite: «Vem e segue-mel»

Concede aos rapazes e às raparigas

que respondam prontamente ao teu chamamento!

 

Apoia nas suas fadigas apostólicas os nossos bispos,

os padres e as pessoas consagradas.

Concede a perseverança aos nossos seminaristas

e também a todos os que vivem um ideal de vida
totalmente consagrado ao teu serviço.

 

Desperta nas nossas comunidades o compromisso missionário.
Envia, Senhor, trabalhadores para a tua messe

e não permitas que a humanidade se perca

por falta de pastores, de missionários

ou de pessoas dedicadas à causa do Evangelho.

 

JOÃO PAULO II

9 Abril - Súplica de João

Não reprimas o fluxo do meu coração 

que sobe aos teus olhos, Mãe.

Não mudes nada neste amor,

reenvia-me a onda

nas tuas mãos translúcidas.

 

Ele pediu-to.

Eu sou João, o pecador. Não há muito

que amar em mim.

 

Sinto-me sempre nas margens do lago,
descalço na areia e, subitamente... Ele.

Em mim, nunca abraçarás o seu mistério,
mas docemente cingirei teus pensamentos,
como a murta.

 

Ele quis, Mãe, que eu te diga.
Suplico-te que esta palavra
não te pareça apoucada.

Na verdade, é difícil medir o sentido
das palavras que Ele nos inspira
para que, antes delas, todo o amor
fosse ocultado.

 

KAROL JÓZEF WOJTYLA (1920-2005)