Espírito Santo, como te chamar,
tu que te escondes tanto,
tu que não tens rosto,
tu que não és nem o Pai nem o Filho
mas o seu amor.
As palavras com que te designam
são as que sempre me seduziram:
espirito de verdade, espírito de amor.
Podem separar-se?
Tu que as unes em Ti,
concede-me que procure uni-las em mim.
Não te chamarei “consolador”,
porque é uma palavra que se desvalorizou nas nossas
línguas.
És bem mais:
és o repouso no trabalho.
Reúnes em ti as coisas que se opõem.
Estás presente até nas minhas sensações
para as purificares,
e até nos meus pensamentos
para lhes dares uma carne.
“Acende a claridade nas nossas almas!
Enche de amor os nossos corações.”
Espírito Santo, tu que és
o inspirador de tudo o que começa,
tu que dás a paciência
nas esperas e nos atrasos,
tu que nos ajudas a recomeçar incessantemente,
tu que nos permites acabar,
sê o hospedeiro invisível,
o hospedeiro desconhecido de toda a história humana!
Tu que és a doçura do que é forte
e a força do que é doce,
tu que ages no segredo das profundezas,
tu que sabes o que são nos nossos corações
uma esperança frustrada, um amor traído,
uma separação entre aqueles que se amaram,
tu que sabes o que é mais difícil
reconciliar do que conciliar,
tu que fizeste tão bem o que foi feito,
refaz o que foi desfeito!
Tu que sabes que há palavras
que não se pronunciam,
tu que és a voz dos nossos silêncios,
o gemido das nossas preces,
sê o nosso recriador!
Vem, Espírito Criador, recriador.
Jean Guitton (1901-1999)