quinta-feira, 3 de junho de 2021

3 de Junho - Oração do servo inútil




Durante muito tempo, Senhor, pude servir os meus irmãos;
deste-me a alegria de me dar aos outros
sem cálculo nem reserva.
Mas a idade e a saúde fizeram-me justiça
e eis-me - servo inútil -
pronto a olhar para o mundo que se agita
e que já me esquece.
Agora, tenho todo o meu tempo para mim,
meu tempo para admirar, contar e ouvir,
tempo para te dizer a minha oração
e para te contemplar.
... Mas eu sou inútil!
Não deste ao lírio dos campos a sua aparência
e às aves do céu o seu pão de cada dia?
Velaste por eles, embora sejam inúteis,
para que, enfim, o útil volte a ser agradável
Também perco o meu tempo como Tu
a ver o que já não temos tempo de ver,
a fazer o que já não temos tempo de fazer,
a amar o que já não temos tempo de amar.
Distribuíste o vinho superabundantemente
nas bodas de Caná,
inebriaste com a tua alegria os amigos do esposo
que se aprontavam para reencontrar o tédio.
Assim, consagraste a inutilidade da festa.
Por isso, hoje, Senhor, que a minha inactividade
seja um ramo de flores oferecido aos meus amigos.
Também Tu não te tornaste o inútil
aos olhos de tantos irmãos que se apressam sem objectivo?
Por isso bendigo o teu nome,
Deus desconhecido! Deus esquecido!
Porque me chamas a ser em tua imagem
a salvação daqueles que procuram a paz
e a luz de um novo mundo.
 
HILAIRE LÉONARD-ÉTIENNE - SÉCULO XX

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