domingo, 31 de julho de 2022

31 de Julho - Santo Inácio de Loyola - Toma, Senhor



Toma, Senhor, nas tuas mãos

tudo o que tenho:

todas as faculdades da minha alma,

a minha inteligência,

a minha vontade,

o meu coração,

as minhas aspirações e as minhas forças físicas.

 

Tudo o que tenho,

foste Tu quem mo deu.

De bom grado to devolvo,

ponho-o inteiramente à tua disposição

para colaborar contigo

na salvação dos meus irmãos.

 

Dá-me apenas o teu amor e a tua graça

e serei suficientemente rico,

e nada mais desejarei.

 

INÁCIO DE LOIOLA (1491-1556)

sábado, 30 de julho de 2022

30 de Julho - Ao amanhecer II



Abre-nos a tua porta, Senhor,

e por ti, como pelo dia,

serei iluminado.

Na luz,

cantarei a tua glória.

 

De manhã, desperto

para louvar a tua divindade

e apresso-me

para me impregnar da tua palavra.

 

Que com o dia a tua luz

brilhe sobre os nossos pensamentos,

e que as trevas do erro

sejam expulsas das nossas almas.

 

Tu que iluminas todas as criaturas,

ilumina também os nossos corações

para que eles te louvem

ao longo dos dias.

 

Tiago de Saroug

sexta-feira, 29 de julho de 2022

29 de Julho - Santa Marta



Ó Santa Marta, mulher feliz,

nós vos queremos felicitar.

Vós merecestes receber Cristo

por muitas vezes em vosso lar.

 

Vós recebestes tão grande Hóspede

com mil cuidados, nosso Senhor,

em muitas coisas sempre solícita

e impelida por terno amor.

 

Enquanto alegre servis a Cristo,

Maria e Lázaro, vossos irmãos,

podem atentos receber dele

a graça e vida por refeição.

 

Enquanto a vossa feliz irmã

com seus aromas a Cristo ungia,

serviço extremo vós dedicastes

a Quem à morte se dirigia.

 

Ó hospedeira feliz do Mestre,

nos corações acendei o amor,

para que sejam eternamente

lares amigos para o Senhor.

 

Seja à Trindade eterna glória!

E no céu queira nos hospedar

para convosco, no lar celeste,

louvor perene sem fim cantar.

 

Hino Oficio de Leituras

quinta-feira, 28 de julho de 2022

28 de Julho - Ao amanhecer



Fonte inefável de luz,

Verbo no qual o Eterno contempla a sua beleza,

Astro de que o Sol é apenas a sombra grosseira,

Dia sagrado a que o dia pede emprestada a sua claridade.

 

Levanta-te, Sol adorável,

que transforma a eternidade num único dia feliz;

faz brilhar aos nossos olhos a tua claridade compassiva,

e espalha nos nossos corações o fogo do teu amor.

 

Guia a nossa alma na tua senda,

torna o nosso corpo dócil à tua divina lei;

enche-nos de uma esperança que dúvida alguma abale,

e que o erro nunca altere a nossa fé.

 

Que Cristo seja o nosso pão celeste,

que a água de uma fé viva dessedente o nosso coração;

ébrios do teu Espírito, sóbrios para tudo o resto,

digna-te inspirar o vigor aos teus combatentes.

 

Glória a ti, Trindade profunda:

Pai, Filho e Espírito Santo, que adoramos sempre,

enquanto o astro dos tempos iluminar o mundo,

e quando os próprios séculos tiverem terminado o seu curso.

 

Santo Ambósio, bispo de Milão

quarta-feira, 27 de julho de 2022

27 de Julho - Como sois bom



Meu Deus, como sois bom,

não só por vos mostrardes,

mas por falardes ao fundo das almas.

Ó, meu Deus, concedei-nos essa graça,

vós que vindes tão amiúde a nós,

de vos reconhecermos e vos recebermos

com a humildade, a renúncia,

a dádiva de nós próprios

e o amor sem medida que convém.

 

Meu Deus, como sois bom!

Para nos ensinardes o preço da vossa presença

e para nos tornardes fervorosos,

deixais-nos por vezes nas securas

e nas trevas.

Enterramo-nos nas areias movediças.

Mas então vós gritais:

“Procura-te em mim”

e apresentais-nos uma âncora sólida

a que podemos amarrar a nossa alegria.

Essa âncora

é a alegria da vossa Beatitude infinita.

 

Meu Deus, como sois bom!

Não existe pecador tão grande,

criminoso tão empedernido,

a que não ofereçais em voz alta o Paraíso,

como o deste ao bom ladrão

pelo preço de um instante da vossa vontade!

Fazei com que vos imitemos,

nunca perdendo a esperança em nós

e nunca perdendo a esperança no nosso próximo.

 

Meu Deus, como sois bom

e que amor devemos ter

por todo o ser humano,

dado que fizestes o homem

“à vossa imagem e semelhança”!

Que respeito por todo o homem!

Que respeito por nós próprios!

Ó meu Deus, dai-me, suplico-vos,

esse respeito e esse amor.

Fazei-me ver sempre, em cada homem, a vossa imagem.

 

Carlos de Foucauld (1858-1916)

terça-feira, 26 de julho de 2022

26 de Julho - Oração a Santa Ana, de uma mãe pelos filhos



Ó gloriosa Santa Ana, padroeira das famílias cristãs,

apresento-te os meus filhos.

Sei que os recebi de Deus e que lhe pertencem.

Também te peço que me obtenhas a graça

de me submeter sempre com eles à Divina Providência.

 

Digna-te abençoá-los e, ao suplicar-te que lhes obtenhas

a bênção de Deus,

não peço para eles

nem as honras do mundo,
nem os bens da terra.

A minha oração será mais cristã e mais agradável a teus olhos

se, antes de tudo, eu pedir o Reino de Deus e a sua justiça.

Espero, boa Mãe, que me ajudarás a procurar para eles

o que é necessário para lhes assegurar uma existência digna.

 

Grava no coração dos meus filhos um grande horror do pecado.

Afasta-os do mal.

Preserva-os da corrupção do mundo.

Que sejam sempre animados por sentimentos cristãos.

Concede-lhes a simplicidade e a rectidão do coração.

Ensina-os a amar unicamente a Deus,

como ensinaste, desde os seus mais tenros anos,

a tua filha lmaculada, a Bem-Aventurada Virgem Maria.

 

Ó Santa Ana, és o espelho da paciência,

obtém-me a graça de suportar com tolerância e amor

todas as dificuldades inseparáveis da educação dos meus filhos.

Abençoa-nos, aos meus filhos e a mim. Vela por nós, ó boa Mãe.

Faz com que nos amemos sempre com Jesus e Maria,

que vivamos conforme o Espírito de Deus.

A fim de que, depois desta vida, tenhamos a felicidade de estarmos todos juntos,

unidos a ti por toda a eternidade. Ámen.

 

ANÓNIMO - SÉCULO XX

segunda-feira, 25 de julho de 2022

25 de Julho - Festa de São Tiago Maior - Oração do Peregrino



Apóstolo São Tiago

eleito entre os primeiros,

Tu foste o primeiro a beber

o cálice do Senhor

e és o grande protector dos peregrinos:

faz-nos fortes na fé

e alegres na esperança,

no nosso caminhar de peregrinos,

seguindo o caminho da vida cristã,

e alenta-nos para que, finalmente,

alcancemos a glória de Deus Pai.

Amen.

 

In GPS do Peregrino

domingo, 24 de julho de 2022

24 de Julho - Onde quer que esteja, sou feliz



Honra e louvor a Ti, Senhor,

concedeste-me tantas graças

que o meu coração nada no júbilo e na alegria,

como um peixe nada no mar.

E este júbilo e esta alegria vêm-lhe.

Senhor, do pensamento de que Tu existes.

 

Aonde quer que vá, vou na alegria.

Onde quer que esteja, sou feliz

e para onde quer que me vire, sou feliz.

E isso acontece-me, Senhor,

porque estou todo em Ti

e tu és todo o júbilo e toda a alegria.

 

Glória e bênção eterna a Ti, Senhor,

esperança dos justos e misericórdia dos pecadores.

Que te praza, Senhor, abrir a nossa boca

para que ela diga os teus louvores,

a Ti que és o nosso Senhor Deus.

 

Raimundo Lúlio (1235-1315), poeta, filósofo e teólogo catalão

sábado, 23 de julho de 2022

23 de Julho - Santa Brígida - Bendito seja Deus



Bendito sejas tu, Senhor meu, Jesus Cristo, que com antecedência predisseste sua morte, e na última ceia maravilhosamente consagraste em teu precioso corpo o pão material; aos apóstolos o entregaste por amor em memória de tua digníssima paixão e, lavando-lhes humildemente os pés com tuas mãos preciosas, demonstraste a máxima humildade.

 

Honra a ti, meu Senhor, Jesus Cristo que, no temor do sofrimento e da morte, fizeste correr de teu corpo inocente sangue como suor, e, mesmo assim, realizaste até o fim nossa redenção, objeto de teu desejo, e deste modo revelaste de modo claríssimo a caridade que tens pelo gênero humano.

 

Bendito sejas tu, Senhor meu, Jesus Cristo, que foste levado a Caifás, e tu, o juiz de todos, permitiste a humilhação de seres entregue ao julgamento de Pilatos.

 

Glória a ti, Senhor meu, Jesus Cristo, pelas zombaria que suportaste quando, revestido de púrpura, coroado de agudíssimos espinhos permaneceste de pé; e sofreste em tua gloriosa face ser cuspido, ter os olhos vendados e com a máxima paciência ser duramente batido no rosto e no peito pelas infelizes mãos dos perversos.

 

Louvor a ti, Senhor meu, Jesus Cristo, que te deixaste ser atado à coluna, flagelado desumanamente e coberto de sangue, ser conduzido a Pilatos e mostrando-te qual cordeiro inocente.

 

Honra a ti, Senhor meu, Jesus Cristo que, ensanguentado em todo o teu corpo, foste condenado à morte de cruz, e a carregaste com dores em teus sagrados ombros; conduzido com fúria ao lugar da paixão, despojado das vestes, assim quiseste ser pregado no lenho da cruz.

 

Honra perpétua a ti, Senhor Jesus Cristo, que, em tanta angústia, humildemente olhaste com teus benignos olhos amorosos tua excelente mãe, que nunca pecou nem jamais consentiu no mínimo pecado; e, consolando-a, a entregaste a teu discípulo para ser fielmente protegida.

 

Bênção eterna a ti, Senhor meu, Jesus Cristo, que, na agonia da morte, deste a todos os pecadores a esperança do perdão, quando ao ladrão voltado para ti prometeste misericordiosamente a glória do paraíso.

 

Louvor eterno a ti, Senhor meu, Jesus Cristo, por todas as horas em que na cruz suportaste as máximas amarguras e angústias por nós, pecadores; pois as dores agudíssimas nascidas de tuas chagas penetravam barbaramente em tua bem-aventurada alma e atravessavam cruelmente teu sacratíssimo coração, até que com um grito rendeste o espírito e, de cabeça inclinada, o entregaste humildemente às mãos de Deus, teu Pai; e então morto, ficaste com teu corpo todo frio.

 

Bendito sejas tu, meu Senhor Jesus Cristo, que com teu precioso sangue e morte sacratíssima remiste nossas almas e as levaste em tua misericórdia deste exílio para a vida eterna.

 

Glória a ti, meu Senhor, Jesus Cristo, que quiseste que teu bendito corpo fosse descido da cruz por teus amigos e reclinado nas mãos de tua mãe dolorosa; e aceitaste ser envolto por ela em lençóis, depositado no sepulcro e ali ser guardado por soldados.

 

Honra sempiterna a ti, meu Senhor, Jesus Cristo que ressuscitaste ao terceiro dia e àqueles que escolheste te manifestaste; depois de quarenta dias, subiste ao céu à vista de muitos, e lá colocaste honrosamente teus amigos que havias libertado dos infernos.

 

Júbilo e louvor eterno a ti, Senhor Jesus Cristo, que enviaste o Espírito Santo aos corações dos discípulos e neles aumentaste o imenso amor divino.

 

Bendito sejas tu, louvável e glorioso pelos séculos, meu Senhor Jesus, que te assentas no trono em teu reino dos céus, na glória de tua divindade, vivendo no corpo com todos os santíssimos membros que recebesse a carne da Virgem. E deste modo, voltarás no dia do juízo para julgar as almas de todos os vivos e mortos; que vives e reinas com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos. Amém.

 

Das orações, atribuídas a Santa Brígida [Oficio de leituras] (1303-1373)

sexta-feira, 22 de julho de 2022

22 de Julho - Oração a Maria Madalena



O amor de Jesus pela ovelha perdida:

 

Quanto mais Ele te amava, tanto mais estava próximo de ti,

tanto mais te ensinava, tanto mais te inspirava.

Mas, se o teu pecado abundava, a graça superabundou.

De tanto que te amava, para ti e para a tua irmã,

ressuscitou o teu irmão em decomposição, havia quatro dias.

Apiedou-se tanto dos vossos choros e gemidos

que, não podendo conter-se, também chorou.

Amava tanto que foi primeiro a ti que se mostrou depois da sua Paixão.

A escritura cumpriu-se em ti; pois diz que a ovelha perdida

foi encontrada e que Jesus levou-a nos braços até ao rebanho.

 

Tanto amaste Jesus, Maria Madalena,

que Ele te instituiu noiva soberana dos pecadores:

de todos os transviados, dos que estão em sofrimento,

de todos os desiludidos da esperança.

Jesus é tão bom que não recusa a ninguém, cheio de contrição,

a consolação tão doce da santa compaixão.

 

Ó Maria Madalena, espelho resplandecente,

no qual se devem reconhecer todos os pecadores penitentes.

Ó dama graciosa, pecadora tornada santa,

faz-me entrar na contrição dos meus pecados,

e, pelos teus santos méritos, eu obtenha remissão.

Conheces bem a fraqueza da minha fragilidade e as minhas iniquidades,

por isso ajuda-me, ó consolação dos pecadores.

A ti, senhora de toda a bondade, recomendo

os meus desejos e a minha vontade.

Faz com que, por ti, eu possa herdar o Paraíso.

 

SÉCULO XV

quinta-feira, 21 de julho de 2022

21 de Julho - Ó Deus dos pecadores quotidianos



Ó Deus dos pecadores quotidianos,

dos cobardes

e dos medíocres,

as nossas faltas não são extraordinárias,

são poeira quotidiana

e tão comuns

que quase as esqueceríamos,

sobretudo se te esquecermos,

a Ti, o Santíssimo.

 

Karl Rahner (1904-1984), teólogo católico alemão

quarta-feira, 20 de julho de 2022

20 de Julho - Se conhecesses os teus pecados, perderias a coragem


Pai celeste, não estejas com os nossos pecados contra nós, mas connosco contra os nossos pecados: a fim de que o teu pensamento, quando despertar em nós, de cada vez, não nos lembre as nossas faltas cometidas mas sim o teu perdão, nem como nos tresmalhámos mas como tu nos salvaste.

 

Soren Kierkegaard (1813-1855)

terça-feira, 19 de julho de 2022

19 de Julho - Os silêncios da vergonha



Senhor, perdoa-nos os nossos silêncios

quando era necessário falar.

 

Perdoa-nos as nossas vãs palavras

quando era necessário agir.

 

Perdoa-nos o termos confundido

o teu Evangelho com as nossas sabedorias.

 

Perdoa-nos termos restringido o nosso serviço

àqueles que nos agradam.

 

Perdoa-nos a nossa mediocridade,

a nossa falta de amor e de generosidade.

 

Perdoa-nos as nossas ofensas

assim como nós perdoamos

àqueles que nos ofenderam

e ensina-nos a perdoar

sem magoarmos aqueles a quem perdoamos.

 

Por Cristo, nosso Salvador.

Ámen.

 

Federação Protestante de França

segunda-feira, 18 de julho de 2022

18 de Julho - Chama-me quando fujo




Ó Deus muito clemente,

chama-me quando fujo,

arrasta-me quando resisto,

levanta-me quando caio,

sustém-me de pé,

conduz-me quando caminho.

 

Não esqueças aquele que te esquece,

não abandones aquele que te deixa,

não me desprezes quando peco.

Porque, ao pecar, ofendi-te,

a ti, meu Deus,

lesei o meu próximo,

não me poupei a mim mesmo.

 

São Tomás de Aquino (1225-1274)

domingo, 17 de julho de 2022

17 de Julho - Beatos Inácio Azevedo e companheiros - Os sofrimentos e a glória dos mártires


Considera a sabedoria de Paulo. Que diz ele? Penso que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que se há-de manifestar em nós. Então, diz ele, porque me falais dos tormentos, dos altares, dos algozes, dos suplícios, da fome, do exílio, das privações, das cadeias e das algemas? Embora apresenteis todas as coisas que atormentam os homens, nada podeis mencionar que seja digno daquele prémio, daquela coroa, daquela recompensa. Porque as provações acabam-se com a vida presente, ao passo que a recompensa é imortal, permanece para sempre.
A isto mesmo aludia o Apóstolo noutro lugar: As leves e passageiras tribulações do momento presente. Ele diminui a qualidade com a quantidade e alivia a dureza com a brevidade do tempo. Como as tribulações que então sofriam eram por sua natureza penosas e duras, Paulo serve-se da sua brevidade para diminuir a sua dureza, dizendo: As leves e passageiras tribulações do momento presente preparam-nos, para além de toda e qualquer medida, o peso eterno de uma sublime e incomparável glória. Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis; as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas.
Vede como é grande a glória que acompanha a tribulação! Vós próprios sois testemunhas do que dizemos. Ainda antes que os mártires tenham recebido as suas recompensas, os seus prémios, as suas coroas, enquanto se vão ainda transformando em pó e cinza, já nós acorremos com entusiasmo para os honrar, convocamos uma assembleia espiritual, proclamamos o seu triunfo, exaltamos o sangue que derramaram, os tormentos, os golpes, as aflições e as angústias que sofreram; e, deste modo, as próprias tribulações são para eles uma fonte de glória, ainda antes da recompensa final.
Depois de termos reflectido nestas verdades, irmãos caríssimos, suportemos generosamente todas as adversidades que sobrevierem. Se Deus as permite, é porque são para nossa utilidade. Longe de desesperarmos ou perdermos a coragem ante a dureza dos sofrimentos, resistamos com fortaleza e dêmos graças a Deus pelos benefícios que nos concedeu, a fim de que, depois de gozarmos dos seus dons na vida presente, alcancemos os bens da vida futura, pela graça, misericórdia e bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual, com o Pai e o Espírito Santo, pertence a glória e o poder, agora e para sempre e por todos os séculos. Amen.

 

Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo (séc. IV)

sábado, 16 de julho de 2022

16 de Julho - Nossa Senhora do Carmo - Maria concebeu primeiro em seu espírito, depois em seu corpo



Uma virgem da descendência real de David foi escolhida para a sagrada maternidade; iria conceber um filho, Deus e homem, primeiro em seu espírito, e depois em seu corpo. E para evitar que, desconhecendo o desígnio de Deus, ela se perturbasse perante efeitos tão inesperados, ficou sabendo, no colóquio com o anjo, que era obra do Espírito Santo o que nela se realizaria. Maria, pois, acreditou que, estando para ser em breve Mãe de Deus, sua pureza não sofreria dano algum. Como duvidaria desta concepção tão original, aquela a quem é prometida a eficácia do poder do Altíssimo? A sua fé e confiança são ainda confirmadas pelo testemunho de um milagre anterior: a inesperada fecundidade de Isabel. De fato, quem tornou uma estéril capaz de conceber, pode também fazer com que uma virgem conceba.

Portanto, a Palavra de Deus, que é Deus, o Filho de Deus, que no princípio estava com Deus, por quem tudo foi feito e sem ela nada se fez (cf. Jo 1,2-3), a fim de libertar o homem da morte eterna, se fez homem. Desceu para assumir a nossa humildade, sem diminuir a sua majestade. Permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu a verdadeira condição de escravo à condição segundo a qual ele é igual a Deus; realizou assim entre as duas naturezas uma aliança tão admirável que, nem a inferior foi absorvida por esta glorificação, nem a superior foi diminuída por esta elevação.

Desta forma, conservando-se a perfeita propriedade das duas naturezas que subsistem em uma só pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade pela eternidade. Para pagar a dívida contraída pela nossa condição pecadora, a natureza invulnerável uniu-se à natureza passível; e a realidade de verdadeiro Deus e verdadeiro homem associa-se na única pessoa do Senhor. Por conseguinte, aquele que é um só mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), como exigia a nossa salvação, morreu segundo a natureza humana e ressuscitou segundo a natureza divina. Com razão, pois, o nascimento do Salvador conservou intacta a integridade virginal de sua mãe; ela salvaguardou a pureza, dando à luz a Verdade.

Tal era, caríssimos filhos, o nascimento que convinha a Cristo, poder e sabedoria de Deus. Por este nascimento, ele é semelhante a nós pela sua humanidade, e superior a nós pela sua divindade. De fato, se não fosse verdadeiro Deus, não nos traria o remédio; se não fosse verdadeiro homem, não nos serviria de exemplo.

Por isso, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram cheios de alegria: Glória a Deus no mais alto dos céus, e anunciaram paz na terra aos homens por ele amados (Lc 2,14). Eles veem, efetivamente, a Jerusalém celeste ser construída pelos povos do mundo inteiro. Por tão inefável prodígio da bondade divina, qual não deve ser a alegria da nossa humilde condição humana, se até os sublimes coros dos anjos se rejubilam?

 

Dos Sermões [In Nativitate Domini, Sermo 1], de São Leão Magno, papa (séc. V)

sexta-feira, 15 de julho de 2022

15 de Julho - São Boaventura



Cristo é o caminho e a porta. Cristo é a escada e o veículo, o propiciatório colocado sobre a arca de Deus (cf. Ex 26,34) e o mistério desde sempre escondido (Ef 3,9). Quem olha para este propiciatório, como rosto totalmente voltado para ele, contemplando-o suspenso na cruz, com fé, esperança e caridade, com devoção, admiração e alegria, com veneração, louvor e júbilo, realiza com ele a páscoa, isto é, a passagem. E assim, por meio do lenho da cruz, atravessa o mar Vermelho, saindo do Egito e entrando no deserto, onde saboreia o maná escondido. Descansa também no túmulo com Cristo, parecendo exteriormente morto, mas experimentando, tanto quanto é possível à sua condição de peregrino, aquilo que foi dito pelo próprio Cristo ao ladrão que o reconhecera: Ainda hoje estarás comigo no Paraíso (Lc 23,43).

Nesta passagem, se for perfeita, é preciso deixar todas as operações intelectuais, e que o ápice de todo o afeto seja transferido e transformado em Deus. Estamos diante de uma realidade mística e profundíssima: ninguém a conhece, a não ser quem a recebe; ninguém a recebe, se não a deseja; nem a deseja, se não for inflamado, até à medula, pelo fogo do Espírito Santo, que Cristo enviou ao mundo. Por isso, o Apóstolo diz que essa sabedoria mística é revelada pelo Espírito Santo (cf. 1Cor 2,13).

Se, portanto, queres saber como isso acontece, interroga a graça, e não a ciência; o desejo, e não a inteligência; o gemido da oração, e não o estudo dos livros; o esposo, e não o professor; Deus, e não o homem; a escuridão, e não a claridade. Não interrogues a luz, mas o fogo que tudo inflama e transfere para Deus, com unções suavíssimas e afetos ardentíssimos. Esse fogo é Deus; a sua fornalha está em Jerusalém. Cristo acendeu-a no calor da sua ardentíssima paixão. Verdadeiramente, só pode suportá-la quem diz: Minha alma prefere ser sufocada, e os meus ossos a morte (cf. Jb 7,15). Quem ama esta morte pode ver a Deus porque, sem dúvida alguma, é verdade: O homem não pode ver-me e viver (Ex 33,20). Morramos, pois, e entremos na escuridão; imponhamos silêncio às preocupações, paixões e fantasias. Com Cristo crucificado, passemos deste mundo para o Pai (cf. Jo 13,1), a fim de podermos dizer com o apóstolo Filipe, quando o Pai se manifestar a nós: Isso nos basta (Jo 14,8); ouvirmos com São Paulo: Basta-te a minha graça (2Cor 12,9); e exultar com David, exclamando: Mesmo que o corpo e o coração vão se gastando, Deus é minha parte e minha herança para sempre! (Sl 72,26). Bendito seja Deus para sempre! E que todo o povo diga: Amém! Amém! (cf. Sl 105,48).

 

Do Opúsculo Itinerário da mente para Deus, de São Boaventura, bispo (séc. XII)

quinta-feira, 14 de julho de 2022

14 de Julho - Oração de um convertido



Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova. Tarde te amei!

Mas então, tu estavas dentro de mim mesmo, e eu, quanto a mim, estava fora de mim mesmo. E era fora que te procurava. Precipitava-me, na minha fealdade, sobre a graça das tuas criaturas.

 

Tu estavas comigo, e eu não estava contigo, retido longe de ti por essas coisas que não existiriam se não estivessem em ti.

 

Chamaste-me e o teu grito forçou a minha surdez: exalaste o teu perfume, respirei-o, e eis que por ti suspiro. Provei-te e tenho fome de ti, sede de ti. Tocaste-me e consumo-me de ardor pela paz que tu dás.

 

Santo Agostinho, doutor da Igreja

quarta-feira, 13 de julho de 2022

13 de Julho - Vem Pastor




Vem, Senhor Jesus,

procura o teu servidor, procura a ovelha cansada.

Vem pastor!

Deixa as outras noventa e nove

e vem procurar a única que está perdida.

 

Procura-me porque eu te procuro.

Procura-me, encontra-me, acolhe-me, leva-me.

Digna-te acolher aquele que encontras.

Coloca sobre os ombros aquele que acolheste.

 

Vem, pois, Senhor,

vem, pois, Senhor, procurar a tua ovelha,

vem tu mesmo!

Vem e haverá a salvação sobre a terra

e alegria no céu.

Vem, salvação dos errantes, repouso dos fatigados.

Vida dos que morrem.

 

Santo Ambrósio, bispo de Milão (340-397)

terça-feira, 12 de julho de 2022

12 de Julho - Oração universal


 


Pela intercessão da tua misericórdia, Senhor,

concede na tua bondade

a libertação dos oprimidos,

a redenção dos prisioneiros,

o alívio dos aflitos,

a cura dos doentes,

o regresso daqueles que estão longe.

 

Concede, Senhor, na tua bondade,

a saúde aos que são próximos,

o perdão aos pecadores,

o acolhimento aos penitentes,

a felicidade aos justos,

aos pobres aquilo que necessitam,

um caminho recto para os que se tresmalham,

o regresso dos exilados,

a recordação dos defuntos,

misericórdia e clemência para todas as criaturas.

 

Concede-nos, bem como a todos os homens,

aquilo que poderá ajudar-nos,

fracos e pecadores como somos.

Que sejamos agradáveis à tua majestade,

pela tua bondade e a tua misericórdia,

agora, em todo o tempo

e pelos séculos dos séculos.

 

Liturgia síria

segunda-feira, 11 de julho de 2022

11 de Julho - São Bento


Entre as coroas dadas pelo alto,
cujo louvor celebra o nosso canto
glorioso brilhas por merecer tanto,
grande São Bento!

Ainda jovem, te orna a santidade,
do mundo o gozo nada te roubou,
murcha a teus olhos deste mundo a flor,
olhas o alto.

Pátria e família deixas pela fuga,
e na floresta buscas teu sustento.
Ali rediges belo ensinamento
de vida santa.

Obediência à lei de Cristo ensinas
aos reis e povos, tudo o que lhe agrada.
Por tua prece, a nossa tenha entrada
aos bens do céu.

Glória a Deus Pai e ao Filho Unigênito,
e ao Santo Espírito honra e adoração.
Graças a ele, fulge o teu clarão
no céu. Amém.

 

Hino Oficio de leituras

domingo, 10 de julho de 2022

10 de Julho - Que quereis de mim? Não tenho nada para te dar!



Aí está, meu Deus. Procuravas-me?

Que queres de mim? Não tenho nada para Te dar.

 

Desde o nosso último encontro,

não pus nada de lado para Ti.

Nada… nem uma boa acção. Estava demasiado cansada.

Nada… nem uma boa palavra. Estava demasiado triste.

Apenas a falta de apetite de viver, o tédio, a esterilidade.

- Dá!

 

A pressa, a cada dia, de ver a jornada terminada,

sem servir para nada,

o desejo do repouso longe do dever e das obras,

o despego do bem fazer,

a falta de apetite de Ti, ó meu Deus!

- Dá!

 

O torpor da lama, o remorso da minha moleza

e a moleza mais forte do que o remorso…

- Dá!

 

A necessidade de ser feliz,

a ternura que desfaz a dor

de ser eu sem recurso…

- Dá!

 

Perturbações, terrores, dúvidas…

- Dá!

 

Senhor, eis qu, tal como um trapeiro,

vais recolhendo resíduos, imundícies.

Que queres fazes com eles, Senhor?

- O Reino dos céus.

 

Marie Noel

sábado, 9 de julho de 2022

9 de Julho - Que esperais de mim, Senhor?



Majestade soberana, eterna sabedoria,

Deus único, bondade sublime,

pertenço a vós que me criaste,

a vós que me resgatastes,

a vós que me apoiastes,

a vós que me chamastes,

a vós que me esperastes,

a vós, uma vez qie não me perdi:

que esperais de mim, Senhor?

 

Dai-me a morte ou a vida,

dai-me a saúde ou a doença,

dai-me a luta ou a paz total,

a fraqueza ou a força aumentada,

a tudo direi sim:

que esperais de mim, Senhor?

 

Dai-me a riqueza ou a pobreza,

o consolo ou a desolação,

dai-me a alegria ou a tristeza,

dai-me o inferno ou dai-me o céu,

vida doce e sol sem véu,

porque sou toda vossa:

que esperais de mim, Senhor?

 

Dai-me pois a sabedoria,

ou, pelo vosso amor, a ignorância,

dai-me anos de abundância,

ou de fome ou de escassez,

dai-me as trevas ou a claridade,

abanai-me aqui ou ali:

que esperais de mim, Senhor?

 

Se quiseres que repouse,

por amor, repousarei;

se me mandardes trabalhar,

quero morrer trabalhando.

Dizei-me onde, quando e como.

Falai, ó vós que amo:

que esperais de mim, Senhor?

 

Só vós, ó Deus, viveis em mim.

Que esperais de mim, Senhor?

 

Santa Teresa de Ávila (1515-1582)

sexta-feira, 8 de julho de 2022

8 de Julho - Dei-lhe... Ele deu-me



Dei-lhe toda a minha tristeza,

Ele deu-me toda a sua alegria.

Dei-lhe todo o meu tormento,

Ele deu-me toda a sua paz.

Canta, minha alma, toda a tua alegria.

 

Dei-lhe toda a minha dor,

Ele deu-me toda a sua felicidade.

Dei-lhe toda a minha angústia,

Ele deu-me toda a sua serenidade.

Canta, minha alma, toda a tua alegria.

 

Dei-lhe todo o meu orgulho,

Ele deu-me toda a sua humildade.

Dei-lhe toda a minha rapacidade,

Ele deu-me toda a sua bondade.

Canta, minha alma, toda a tua alegria.

 

E tal como em Caná

houve demasiado vinho…

E tal como na multiplicação

houve demasiado pão…

E tal como em Tiberíades

houve demasiados peixes,

e as redes cederam…

 

Deus, quando dá, dá sempre demasiado de tudo.

 

Jacques Lebreton (1922-2006),tinha uma grave deficiência

quinta-feira, 7 de julho de 2022

7 de Julho - Prece de um ministro



Senhor, concede-me a dádiva de ver as coisas a fazer

sem esquecer a pessoas a amar

e de ver as pessoas a amar

sem esquecer as coisas a fazer.

 

Concede-me a dádiva de ver as verdadeiras necessidades dos outros.

É tão difícil

não querer no lugar dos outros,

não responder no lugar dos outros,

não decidir no lugar dos outros,

e compreender os desejos dos outros

quando são tão diferentes dos nossos!

 

Senhor, concede-me a dádiva de ver

o que esperas de mim entre os outros,

enraíza no mais profundo de mim esta certeza:

não fazemos a felicidade dos outros sem eles…

 

Senhor, ensina-me

a fazer as coisas amando as pessoas.

Ensina-me a amar as pessoas

para só encontrar a minha alegria

fazendo alguma coisa por elas

e para que um dia elas saibam

que só tu, Senhor, és o Amor.

 

Norbert Segard (1922-1981), político do Norte

quarta-feira, 6 de julho de 2022

6 de Julho - Dai-me, rogo-vos


 

Ó Jesus, dai-me, rogo-vos,

o pão da humildade,

o pão da obediência,

o pão da caridade,

o pão de força para quebrar a minha vontade

e a fundir na vossa,

o pão de mortificação interior,

o pão de despojamento das criaturas,

o pão da paciência

para suportar as mágoas que o meu coração sofre.

Ó Jesus, quereis-me crucificado, fiat.

o pão de força para bem sofrer,

o pão não ver a não ser apenas vós

em tudo e sempre.

Jesus, Maria, a Cruz,

não quero outros amigos para além desses.

 

Oração escrita ou transcrita por Santa Bernardete (1844-1879)

terça-feira, 5 de julho de 2022

5 de Julho - Concede-me a dádiva de amar



Meu Deus, tu és toda a ternura para mim.

Peço-te pelo teu Filho bem-amado:

permite que me deixe encher de misericórdia

e ame tudo o que tu me inspiras.

[…]

 

Concede-me a dádiva de aliviar os infelizes,

de oferecer um asilo àqueles que não o têm,

de consolar os aflitos,

de encorajar os oprimidos.

 

Concede-me a dádiva de dar alegria aos pobres,

de ser o apoio dos que choram,

de perdoar a dívida daquele

que tiver contraído uma perante mim.

 

Concede-me a dádiva de perdoar

àquele que me tiver ofendido,

de amar aqueles que me odeiam,

de pagar sempre o mal com o bem,

de não sentir desprezo por ninguém,

e de honrar todos os homens.

[…]

 

Dá-me, Senhor,

a paciência quando tudo corre mal,

e a moderação quando tudo corre bem.

Concede-me a dádiva de saber controlar a minha língua

e de pôr, se necessário, um guarda na minha boca.

Por fim, meu Deus,

dá-me o desprezo pelas coisas que passam

e a sede dos bens eternos.

 

Santo Anselmo de Cantuária (1033-1109)

segunda-feira, 4 de julho de 2022

4 de Julho - A fé, a esperança e a caridade

 


Deus muito poderoso e muito glorioso,

vem iluminar as trevas do meu coração.

Dá-me a fé direita, a esperança sólida e a caridade perfeita,

bem como o sentido penetrante e o discernimento,

para que eu faça verdadeiramente o que é a tua santa vontade.

 

Inscrição no Convento de Santa Clara, em Assis

domingo, 3 de julho de 2022

3 de Julho - Meu Senhor e meu Deus

 


Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio (Jo 20,24). Era o único discípulo que estava ausente. Ao voltar, ouviu o que acontecera, mas negou-se a acreditar. Veio de novo o Senhor, e mostrou seu lado ao discípulo incrédulo para que o pudesse apalpar; mostrou-lhe as mãos e, mostrando-lhe também a cicatriz de suas chagas, curou a chaga daquela falta de fé. Que pensais, irmãos caríssimos, de tudo isto? Pensais ter acontecido por acaso que aquele discípulo estivesse ausente naquela ocasião, que, ao voltar, ouvisse contar, que, ao ouvir, duvidasse, que, ao duvidar, apalpasse, e que, ao apalpar, acreditasse?

Nada disso aconteceu por acaso, mas por disposição da providência divina. A clemência do alto agiu de modo admirável a fim de que, ao apalpar as chagas do corpo de seu mestre, aquele discípulo que duvidara curasse as chagas da nossa falta de fé. A incredulidade de Tomé foi mais proveitosa para a nossa fé do que a fé dos discípulos que acreditaram logo. Pois, enquanto ele é reconduzido à fé porque pôde apalpar, o nosso espírito, pondo de lado toda dúvida, confirma-se na fé. Deste modo, o discípulo que duvidou e apalpou tornou-se testemunha da verdade da ressurreição.

Tomé apalpou e exclamou: Meu Senhor e meu Deus! Jesus lhe disse: Acreditaste, porque me viste? (Jo 20,28-29). Ora, como diz o apóstolo Paulo: A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem (Hb 11,1). Logo, está claro que a fé é a prova daquelas realidades que não podem ser vistas. De fato, as coisas que podemos ver não são objeto de fé, e sim de conhecimento direto. Então, se Tomé viu e apalpou, por qual razão o Senhor lhe disse: Acreditaste, porque me viste? É que ele viu uma coisa e acreditou noutra. A divindade não podia ser vista por um mortal. Ele viu a humanidade de Jesus e proclamou a fé na sua divindade, exclamando: Meu Senhor e meu Deus! Por conseguinte, tendo visto, acreditou. Vendo um verdadeiro homem, proclamou que ele era Deus, a quem não podia ver.

Alegra-nos imensamente o que vem a seguir: Bem-aventurados os que creram sem ter visto (Jo 20,29). Não resta dúvida de que esta frase se refere especialmente a nós. Pois não vimos o Senhor em sua humanidade, mas o possuímos em nosso espírito. É a nós que ela se refere, desde que as obras acompanhem nossa fé. Com efeito, quem crê verdadeiramente, realiza por suas ações a fé que professa. Mas, pelo contrário, a respeito daqueles que têm fé apenas de boca, eis o que diz São Paulo: Fazem profissão de conhecer a Deus, mas negam-no com a sua prática (Tt 1,16). É o que leva também São Tiago a afirmar: A fé, sem obras, é morta (Tg 2,26).

 

Das Homilias sobre os Evangelhos, de São Gregório Magno, papa (séc. VI).

sábado, 2 de julho de 2022

2 de Julho - Dá-me um coração puro

 



Dá-me um coração contrito, um coração puro,

um coração sincero, casto e sóbrio,

um coração doce, um coração humilde,

um coração cheio de serenidade,

um coração de que sejas o único desejo,

um coração que cuide de tudo e guarde a mesura de tudo,

um coração simples e que não pense mal dos seus irmãos,

um coração compassivo com os sofrimentos de outrem,

um coração que se alegre com as virtudes dos outros;

a fim de que eu saiba chorar com aqueles que choram

e alegrar-me com os que estão na alegria.

Ámen.

 

João de Fécamp (1028-1078)

sexta-feira, 1 de julho de 2022

1 de Julho - Divindade de Cristo


 


Divindade de Cristo, ilumina-me, tem piedade de mim!

Alma de Cristo, tem misericórdia de mim, salva-me!

Corpo de Cristo, alimenta-me, fortalece-me!

Sangue de Cristo, dessedenta-me, santifica-me!

Água do lado de Cristo, lava-me, purifica-me!

Paixão, morte de Cristo livremente aceite, cura-me, vivifica-me!

Cruz de Cristo, protege-me com a tua força, concede-me a velhice

E estende-te sobre a minha cabeça no dia da luta!

Ó meu doce Jesus, adoça o meu coração com a tua caridade

e esconde-me nas tuas chagas sangrantes!

Ó meu muito amável amante, não me abandones

e não permitas que me afaste de ti,

nem que seja por um instante.

 

Demétrio de Rostov (1651-1709)

28 Fevereiro - Sob o sol de Satã

Senhor, não é verdade que te tenhamos amaldiçoado; que pereça esse mentiroso, essa falsa testemunha, o teu insignificante rival! Ele ...