Senhor, porque me dissestes
que amasse todos os meus irmãos, os homens?
Tentei, mas regresso junto de vós, aterrorizado…
Senhor, estava tão descansado em minha casa,
tinha-me organizado, tinha-me instalado.
Sozinho, estava conciliado comigo mesmo,
abrigado do vento, da chuva, da lama…
Teria permanecido puro, encerrado na minha torre.
Mas vós obrigastes-me a entreabrir a porta.
Como uma rajada de chuva em pleno rosto,
o grito dos homens despertou-me.
E deixei uma porta entreaberta,
como fui imprudente.
Lá fora, os homens esperavam-me.
Eram muitos, eram miseráveis.
Invadiram-me sem dizerem água vai,
foi preciso arranjar-lhes lugar em minha casa.
Senhor, eles magoam-me,
são demasiado incómodos, demasiado invasivos.
Já não posso fazer mais nada.
Quanto mais empurram a porta mais a porta se abre.
Ah! Senhor, estou perdido, já não estou só.
Já não há lugar para mim em minha casa.
- Não temas nada – diz Deus -, ganhaste tudo.
Porque enquanto esses homens entravam em tua casa,
Eu, o teu Pai, eu, o teu Deus,
introduzi-me entre eles.
Michel Quoist (1921-1997)
Sem comentários:
Enviar um comentário