Senhor, sabes melhor do que eu que envelheço,
e que um dia farei parte dos “velhos”.
Guarda-me desse fatal hábito
de achar que devo dizer qualquer coisa
a propósito de tudo e em todas as ocasiões.
Liberta-me do desejo obsidiante
de pôr em ordem os assuntos dos outros.
Torna-me reflectida mas não enfadonha,
amiga de servir mas não autoritária.
Parece-me uma pena não utilizar
toda a minha reserva e sabedoria,
mas tu sabes, Senhor…
que gostaria de conservar alguns amigos.
Impede-me de recitar incessantemente pormenores,
dá-me as asas para chegar ao fim.
Sela os meus lábios sobre os meus males e as minhas
dores,
e de ser cada vez mais doce,
ao longo dos anos, enumera-los.
Não ouso pedir-te para chegar
a tomar gosto
pela enumeração das dores dos outros,
mas ajuda-me a suportá-las com paciência.
Não ouso exigir-te uma melhor memória,
mas dá-me uma humildade crescente
e menos presunção
quando a minha memória choca com a dos outros.
Ensina-me a gloriosa lição
de que pode acontecer que me engane.
Guarda-me,
não tenho assim tanto desejo de santidade:
é tão difícil viver com alguns santos!
Mas uma pessoa velha e amarga
é certamente uma das invenções
suprema do diabo.
Torna-me capaz de ver o que há de bem
onde não se espera que houvesse
e de reconhecer os talentos
em pessoas onde não se viam.
E dá-me a graça para lho dizer…
Ámen!
Prece de uma religiosa inglesa do século XVII
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