quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

17 de Janeiro - O amor ardente



Que a terra se cale e o homem, em silêncio,
Escute as minhas palavras e, nelas, seu coração medite.
E tu, Amor, já que aos teus fogos eu forneço tanta lenha,
Dá o teu sopro aos acentos da minha voz.
Logo que os raios da beleza primeira
Lançaram dentro da Alma um excesso de luz,
Concentrando num ponto seu calor inteiro,
Ela faz um braseiro no centro do seu coração.
Tendo a chama ganhado - a carne já vencida,
Sob os pés de Amor tantas vezes abatida,
Passa diante do Espírito que ela vai surpreendendo,
E até ao mais profundo por seus traços deslumbrando,
Arrasa todos os sentidos, apodera-se das potências,
Tira de todo o mal as fortes resistências,
Invade a razão, aquece os espíritos,
Torna todo o corpo submisso e os membros surpresos,
Sem deixar nem o sangue, nem nada nas artérias
Que não seja penetrado pelos seus ardores sinceros;
Por fim, põe no coração um fogo bem aceso
E faz reinar no homem um amor em chamas.
[...]
Mas o que é preciso, aqui, mais que tudo admirar,
É que o mais alto ponto a que se possa aspirar,
Este belo leito onde o Esposo se repousa,
Em que a majestade do próprio Deus se encerra,
É dentro deste grão fogo, neste largo braseiro
Que faz mais em grandeza que todo o mundo inteiro.
É lá que o Divino Casamento se efectua,
Da Alma com seu Deus; é lá que ela, para sempre,
Com Ele se engaja; e mais profundamente
Com Ele se une num santo beijo e abraço.
A virtude mais exacta faz disso o Epitalâmio.
Lá estão os bens do Céu pra enricar esta Alma;
Mas que dizemos nós?! Musa, é falar de mais,
É um segredo do Céu que deve ser escondido.


JEAN-JOSEPH SURIN (1600-1665)

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