sábado, 17 de fevereiro de 2024

17 Fevereiro - Se tu falasses Senhor



Se Tu falasse, Senhor, escutar-te-ia muito bem,
Porque toda a voz humana prà minh' alma se calou,
Fico só junto da minha força abatida,
Deixei todo o apoio, quebrei os elos todos.

Meu coração meditativo que bebe a luz
Ter-te-ia absorvido, sim, quebrando as leis,
Como o vento das noites que penetra nas pedras
Teu verbo inflamado descesse sobre mim!

Nada te ansiava com tanta indigência:
Ter-te-ia festejado ao som do timbale
Se, no meu triste e laborioso silêncio,
Tivesse ouvido a tua voz e conhecido o teu nome.

Por mais forte que fosse a sombra nos teus rostos,
Sublime Trindade, eu teria afastado a noite;
Meu espírito teria prosseguido sem fadiga
E eu teria aportado à tua luminosa margem.

Mas nunca nada em mim te revelou,
Senhor! Nem o céu pesado como água parada,
Nem a exaltação do Verão sobre os trigais,
Nem o templo jónico na montanha agreste;

Nem os sinos que são um incenso cadenciado,
Nem a coragem humana, nunca recompensada,
Nem os mortos, cujo silêncio hostil e penetrante
Parece uma renúncia invencível e cansada;

Nem as noites em que o espírito sustém como uma prova
A sua aspiração ao bem universal;
Nem a Lua que sonha e vê passar o rio
Dos beijos furtivos sob os céus eternos.

Mas, ai! Nem estas manhãs da minha infância ardente,
Onde, nos prados inundados com uma nuvem de perfume,
Eu sentia, tanto o êxtase em mim jogava sua lança,
Um anjo nos céus que me arrancava o coração!

Mas tem piedade! Que a tua mão pendente
Venha guiar minha sorte dolorosa e desbotada:
Anseio por Ti, Esplendor, Razão deslumbrante!
Mas não te vejo, ó meu Deus! E canto
Por causa do vazio infinito!

ANNA DE NOAILLES (1876-1933) 

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