sábado, 24 de fevereiro de 2024

24 Fevereiro - Oração por todas as espécies de necessidades



Meu Deus, venho a Ti para buscar um pouco de ajuda
Com as pobres gentes que me pesam no coração.
Elas sofrem. Não sei onde encontrar o remédio
Para a sua sorte nem como tirar-lhes a sua dor.
Meu Deus, meu Deus, tua piedade vê mais claro que a nossa.

Deponho-os no teu regaço um após outro:
Livra-os do mal, meu Deus, cada um do seu...

- Eu, Senhor? Ó meu Deus, eu não preciso de nada.
É minha vizinha. Ai! Deseja tanto morrer!
Deixou acabar seu pão e não tem mais.
Não sabia servir-se da sua vida
E ficou com seu corpo encerrado,
Sua miséria infinda, seus velhos dias já sem uso.
Ah! Para sair de lá, encontra-nos uma passagem.
Sou pobre e pouco tenho que lhe dar...

- Eu, Senhor? Ó meu Deus, eu não preciso de nada.
É meu irmão doente. Ai! Arrastar o ano
Sempre na mesma estação magra e dolente,
Secar sem fruto, semelhante ao trigo emurchecido
Que não pode levantar-se e jaz sob a erva,
Sabes, ó meu Deus, como a prova é dura?
Mas eu sei e to imploro. Impede que ela dure
Para aquele, fala e sua força voltará...

- Eu, Senhor? Ó meu Deus, eu não preciso de nada.
É a minha amiga enlutada. Pálida na sua casa vazia,
Onde seus olhos já não estão, ela procura sem ver,
Vagueia, espiando o choque surdo da sua pena.
Meu Deus, não a deixes sozinha com a noite,
Mas desce até ela, vai lá imediatamente
Para ajudá-la a chorar; e, enquanto ela chora,
Reata, em segredo, a sua ligação ao mundo...

- Eu, Senhor? Ó meu Deus, eu não preciso de nada.
É a minha irmãzinha que não é nada bonita,
Minha irmã parecida comigo que não é feliz.
É difícil, ó Deus, mesmo quando esquecemos,
Caminhar todos os dias sem o sol no coração,
Passar sem entrar à porta das ternuras.
Ó Pai! Por piedade, que um pouco de amor a acaricie,
Ser feliz um momento far-lhe-ia muto bem...

- Eu, Senhor? Ó meu Deus, eu não preciso de nada.
Meu velho professor... O que leu enchia dez cabeças.
Como ele te servia, ó meu Deus! Melhor que eu,
E era tão bom; bastava-lhe saber que existes.
Não lhe dirás nada que lhe inspire a fé?
Que infeliz! Só tem a si mesmo como luz!
Onde te encontraria ele? Procura-o tu primeiro,
Ó Graça, começa a conversar com ele...

- Eu, Senhor? Ó meu Deus, eu não preciso de nada.
Minha mãe... Um coração sempre quase a dividir-se,
Perdido - como o meu - quando à volta serena tudo.
Na sua turbação, Senhor, quem poderia tomá-lo
E, do fundo da noite, devolvê-lo ao dia?
Mas Tu, que o vês bater na pobre mulher,
Ó meu Deus, prepara, na sombra desta alma,
Uma nova inquietação, depressa, um novo auxílio...

- Eu, Senhor? Ó meu Deus, eu não preciso de nada.
Olha, ó meu Deus, todos os que encontro,
Aqueles com quem paro, a sofrer um instante
E que logo deixo. Senhor, mostro-tos,
Lembra-te deles quando eu me esquecer - e são muitos! -,
Fica com eles enquanto eu passo,
Leva-os até à noite porque já antes estou cansada.
Salva-os a todos por mim que não tenho como...

- Eu, Senhor? Ó meu Deus, eu não preciso de nada.
É verdade, não tive nenhuma sorte nem morada,
Nem nenhum bom caminho desde que me fui,
Nem sequer, talvez, ternura bastante.
- Meu coração tremia tão forte que procurei mal.
É verdade, meu Deus, não tenho nenhum bem
Nem felicidade, nem saúde, nem riqueza. Não importa,
Tenho tudo o que preciso e bem o sabes,
Deus de alegria, ó meu Deus, eu não preciso de nada.


MARIE NOEL (1883-1967)

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