Quem me dará a graça para que eu possa de algum modo
aliviar o meu Salvador aflito? Ser-me-á permitido tomar as minhas roupas mais
preciosas para cobrir a tua nudez?
Terei bálsamo excelente para ungir as tuas chagas?
Estarei perto de Ti na cruz para receber teu corpo nos meus braços, para que o
seu peso não rasgue ainda mais as chagas dos teus pés e das tuas mãos? Mas,
sobretudo, que eu possa impedir os pecadores de ofender tanto o teu coração.
Mas, Senhor, porque me deleitei nestes desejos, se não
tenho a força de praticar um só deles?!
Como vos daria minhas vestes preciosas, eu que nunca dei
nada por mais vil e usado aos teus pobres?
Na cruz, não mos pediste e agora ofereço-tos; nos teus
pobres mos pediste e eu neguei-tos.
Ó vãs e miseráveis ofertas que são meras aparências! De
facto, não são mais que zombarias!
Como espalharia eu bálsamo nas tuas chagas, se nunca dei
um copo de água aos teus pobres?
Como quereria ajudar-te na cruz, se é da cruz que fujo
sempre?
Será, porventura, a minha iniquidade assim tão grande?
Oh! Como sou miserável por nela ter mergulhado tantas vezes!
Senhor, quem, a não ser Tu, me livrará deste labirinto?
Oh, como sofres, Senhor, para me livrar do Inferno e me
livrar da perdição!
E eu, miserável, quanto sofro para chegar lá! Tudo o que
sofri até ao presente foi somente para minha perdição.
Não, Tu queres salvar-me, Senhor. Faça-se a tua vontade!
FRANCISCO DE SALES (1567-1622)
Sem comentários:
Enviar um comentário