Meu Deus, ser-me-ia tão doce que, no meio do esforço de
sentir que, à medida que me desenvolvia, eu ia aumentando a tomada de posse que
tens sobre mim; ser-me-ia tão doce, ainda, sob o impulso interior da vida ou
entre o jogo favorável dos acontecimentos, abandonar-me à tua Providência. Faz
com que, depois de ter descoberto a alegria de todo o crescimento para Vos
fazer ou para Vos deixar crescer em mim, aceda sem perturbação a esta última
fase da comunhão ao longo da qual te possuirei diminuindo em Ti.
Depois de te ter apercebido como Aquele que é «mais eu
mesmo», faz com que, quando chegar a minha hora, eu te reconheça sob as
espécies de cada potência, estrangeira ou inimiga, que parecerá querer
destruir-me ou suplantar-me. Quando, no meu corpo (e muito mais no meu
espírito), o desgaste do tempo começar a deixar as marcas da idade; quando o
mal, que diminui ou arrebata, se estabelecer em mim ou à minha volta, ou nascer
dentro de mim; no minuto doloroso em que eu repentinamente tomar consciência de
que estou doente ou que me tornei velho; sobretudo nesse momento derradeiro, em
que sentir que me escapo a mim mesmo, absolutamente passivo nas mãos das
grandes forças desconhecidas que me formaram; em todas estas horas sombrias,
faz, meu Deus, com que compreenda que és Tu (desde que a minha fé seja
suficientemente grande) quem afasta dolorosamente as fibras do meu ser para
penetrar até à medula da minha substância, para me arrebatares em Ti.
Sim, quanto mais profundo na minha carne se incrustou e
se tornou incurável, tanto mais podes ser Tu quem eu abrigo como um princípio
amante, activo, de depuração e afastamento. Quanto mais o futuro se abre diante
de mim como uma fresta vertiginosa ou uma passagem escura, tanto mais, se me
aventurar na tua palavra, posso confiar para me perder ou me abismar em Ti -
ser assimilado pelo teu corpo, Jesus.
Ó Energia do meu Senhor, Força irresistíve1 e viva,
porque és o mais infinitamente forte de nós dois, é a Ti que cabe o papel de me
consumir na união que deve fundir-nos juntos. Por isso, dá-me algo de mais
precioso ainda que a graça por que te oram todos os fiéis. Pois não morro o
bastante quando comungo. Ensina-me a comungar, morrendo.
PIERRE TEILHARD DE CHARDIN
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