sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

23 Fevereiro - Faz com que eu te reconheça



Meu Deus, ser-me-ia tão doce que, no meio do esforço de sentir que, à medida que me desenvolvia, eu ia aumentando a tomada de posse que tens sobre mim; ser-me-ia tão doce, ainda, sob o impulso interior da vida ou entre o jogo favorável dos acontecimentos, abandonar-me à tua Providência. Faz com que, depois de ter descoberto a alegria de todo o crescimento para Vos fazer ou para Vos deixar crescer em mim, aceda sem perturbação a esta última fase da comunhão ao longo da qual te possuirei diminuindo em Ti.

Depois de te ter apercebido como Aquele que é «mais eu mesmo», faz com que, quando chegar a minha hora, eu te reconheça sob as espécies de cada potência, estrangeira ou inimiga, que parecerá querer destruir-me ou suplantar-me. Quando, no meu corpo (e muito mais no meu espírito), o desgaste do tempo começar a deixar as marcas da idade; quando o mal, que diminui ou arrebata, se estabelecer em mim ou à minha volta, ou nascer dentro de mim; no minuto doloroso em que eu repentinamente tomar consciência de que estou doente ou que me tornei velho; sobretudo nesse momento derradeiro, em que sentir que me escapo a mim mesmo, absolutamente passivo nas mãos das grandes forças desconhecidas que me formaram; em todas estas horas sombrias, faz, meu Deus, com que compreenda que és Tu (desde que a minha fé seja suficientemente grande) quem afasta dolorosamente as fibras do meu ser para penetrar até à medula da minha substância, para me arrebatares em Ti.

Sim, quanto mais profundo na minha carne se incrustou e se tornou incurável, tanto mais podes ser Tu quem eu abrigo como um princípio amante, activo, de depuração e afastamento. Quanto mais o futuro se abre diante de mim como uma fresta vertiginosa ou uma passagem escura, tanto mais, se me aventurar na tua palavra, posso confiar para me perder ou me abismar em Ti - ser assimilado pelo teu corpo, Jesus.

Ó Energia do meu Senhor, Força irresistíve1 e viva, porque és o mais infinitamente forte de nós dois, é a Ti que cabe o papel de me consumir na união que deve fundir-nos juntos. Por isso, dá-me algo de mais precioso ainda que a graça por que te oram todos os fiéis. Pois não morro o bastante quando comungo. Ensina-me a comungar, morrendo.

PIERRE TEILHARD DE CHARDIN

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